17/10/2011 00:00
Zezo Pedrozo na diretoria da CNA “Agricultura sempre precisará de proteção”
Lutar por um modelo de proteção e apoio à agricultura semelhante aos países desenvolvidos é uma das inspirações do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) – José Zeferino Pedrozo – eleito na última sexta-feira vice-presidente secretário da mais importante entidade do agronegócio nacional, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Pela primeira vez Santa Catarina tem um representante na diretoria da CNA e Pedrozo será um dos principais auxiliares da senadora Kátia Abreu reeleita para a presidência da Confederação para o triênio 2011-2014.
A nova diretoria está assim constituída: Presidente Kátia Regina de Abreu; 1º Vice-presidente João Martins da Silva Júnior; Vice-presidente de finanças José Mário Schreiner; Vice-presidente executivo Fábio de Salles Meirelles Filho; Vice-presidente de secretaria José Zeferino Pedrozo; Vice-presidente diretor Assuero Doca Veronez; Vice-presidente diretor Carlos Rivaci Sperotto; Vice-presidente diretor Eduardo Corrêa Riedel; Vice-presidente diretor Júlio da Silva Rocha Júnior; Vice-presidente diretor José Ramos Torres de Melo Filho; Conselheiro fiscal efetivo Álvaro Arthur Lopes de Almeida; Conselheiro fiscal efetivo Carlos Fernandes Xavier; Conselheiro fiscal efetivo Raimundo Coelho de Sousa; Conselheiro fiscal suplente José Álvares Vieira; Conselheiro fiscal suplente Muni Lourenço Silva Júnior; Conselheiro fiscal suplente Renato Simplício Lopes.
Como o Sr. se sente diante desse novo desafio?
José Zeferino Pedrozo – Estou orgulhoso pelo convite, mas tenho consciência da responsabilidade que terei pela frente. É a primeira vez que faremos parte deste grupo seleto que comanda os setores produtivos do Brasil. Espero estar em condições de transmitir as inovações, questionamentos e reflexões que o setor defende para o nosso Estado, buscando fortalecer o agronegócio do Brasil.
Qual o papel que a CNA deve cumprir nesses novos tempos?
Pedrozo – Em face da natureza da atividade agrícola e pecuária, o principal papel é a defesa política do setor primário da economia e a proteção econômica da classe rural.
Qual seria a situação ideal de apoio do Estado e da sociedade para a agricultura brasileira que a CNA defende?
Pedrozo – Seria a adoção de um modelo de apoio e proteção semelhante aos países desenvolvidos, onde os artifícios utilizados para assegurar a atividade rentável vão muito além dos subsídios. Nesses países existe uma política com tratamento diferenciado para o setor primário, sob vários outros aspectos. Nestas políticas encontramos impostos menores ou a sua completa isenção, créditos de custeio e investimentos sem limites e com juros compatíveis, decisivos investimentos em infraestrutura de transportes, armazenagem e beneficiamento, atrativos financeiros para investimentos em pesquisa e extensão rural, além de adequados mecanismos de comercialização. As políticas de apoio ao emprego de tecnologia e sustentação de renda praticadas são estáveis, isto é, são conhecidas no longo prazo, o que permite aos produtores planejar suas atividades.
Quais são as principais preocupações do produtor rural e do empresário rural, atualmente?
Pedrozo – A evolução resultante da introdução de técnicas aprimoradas, a ausência de salvaguardas contra os subsídios externos, o excessivo liberalismo nas importações, os custos internos e a falta de mecanismos eficientes de apoio ao beneficiamento e à comercialização da produção, somada a um conjunto de outros fatores, aniquilaram a renda de quem pratica a agricultura. Esta situação coloca a produção nacional em desvantagem no concorrido mercado agrícola, com conseqüências negativas no nível interno de renda e de emprego.
Qual é o impacto social da agricultura para o país?
Pedrozo – A função sócio-econômica que envolve o setor primário é muito expressiva. São mais de 80% dos municípios que vivem da dependência da economia primária. As estatísticas estão a comprovar que a maior parte dos alimentos que consumimos provém da produção das pequenas propriedades que atuam no regime de economia familiar. O êxodo rural vem acelerando a urbanização e um déficit fiscal crescente impede que os governos apropriem a infraestrutura das cidades e os empregos urbanos para abrigar tantos migrantes oriundos do meio rural.
Quais as alternativas para aumento da renda rural?
Pedrozo – Perseverar na capacitação do produtor rural, tarefa que o Senar vem realizando com muito sucesso; e manter a diversificação de atividades, buscando em todas elas o aumento da produtividade. O leite vem sendo um exemplo positivo, pois vem garantindo renda mensal ao produtor e evitando o êxodo rural.
Quais os problemas que dificultam o desenvolvimento rural?
Pedrozo –No Brasil e no mundo inteiro, a agricultura é um segmento fragilizado que requer proteção política, econômica e institucional. Em nosso país o setor tornou-se competitivo e conquistou mercados importantes, mas, mesmo assim, requer proteção porque sofre concorrência desleal de outros países que gastam bilhões de dólares em subsídios aos seus agricultores.
Como está o processo de industrialização para abertura de novos mercados para produtos de maior valor agregado?
Pedrozo - Esse é um processo que vai acontecer gradualmente. Nossos produtos industrializados têm qualidade para conquistar qualquer mercado mundial. A agroindústria deve a cada ano aumentar o volume de industrializados e reduzir a venda de carne in natura. Os industrializados, especialmente os da linha fast food, estão no foco de interesse dos consumidores dos grandes centros que, cada vez mais, desejam comida saborosa, de fácil preparo e isenta de gordura.
Como a Faesc e a CNA podem atuar para fortalecer o setor do leite?
Pedrozo - A CNA e a Faesc orientam para a organização da produção, no sentido de as cooperativas controlarem todas as fases da produção. Isso não significa que as cooperativas tenham que construir indústrias de processamento de leite, mas podem terceirizar a industrialização.
O senhor tem sido um entusiasta da aprendizagem rural.
Pedrozo – Essa atividade venho conseguindo estimular através do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Trata-se de um órgão que, mesmo com recursos limitados vem cumprindo seus objetivos ao longo dos últimos anos. E nós aqui em Santa Catarina, como presidente da Federação da Agricultura presidimos também o conselho administrativo do Senar, através do qual tem sido possível promover a profissionalização do nosso homem do campo.
Quais são as principais reivindicações da agricultura?
Pedrozo – O produtor rural quer preço justo para sua produção. Para isso, precisamos trabalhar em duas pontas. Em uma extremidade, ajudá-lo a ser eficiente e competitivo e, para isso, são necessários recursos financeiros das linhas de crédito rural suficientes e no prazo certo, assistência técnica de qualidade, programas de estímulo, tipo troca-troca de sementes, etc. Nesse aspecto, os juros cobrados no Brasil são absurdamente elevados e insuportáveis. De outro lado, precisamos aperfeiçoar os mecanismos de comercialização e de intervenção no mercado, missão que as cooperativas perseguem incessantemente.